Enfrentamento da Covid-19 pela Feevale

Atuação pioneira do mestrado em Virologia

No final de 2019 surgiu, na província de Hubei, na China, um novo coronavirus, classificado pelo Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV) como SARS-CoV-2, agente causador da Covid-19. Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como emergência de saúde pública de importância internacional. A disseminação mundial fez com que a OMS caracterizasse a doença como pandemia em 11 de março de 2020.

Em decorrência da gravidade da situação, a Universidade Feevale percebeu a urgência de agir proativamente, no intuito de atender às demandas sociais para o enfrentamento à pandemia. Assim, a equipe do Mestrado Acadêmico em Virologia iniciou, no dia 29 de março, de forma pioneira no Rio Grande do Sul, a realização de exames de Covid-19, atendendo à demanda das prefeituras da região do Vale do Sinos. Posteriormente, foram incluídas demandas de empresas e prefeituras de outras regiões do Estado, totalizando, até 28 de dezembro de 2020, o atendimento a 41 prefeituras e 499 empresas gaúchas.

A técnica utilizada para a detecção viral é a considerada padrão ouro no mundo, a reação em cadeia da polimerase, que detecta o ácido nucleico viral em tempo real (RT-qPCR). Em vista disso, no período de 29 de março a 28 de dezembro de 2020, foram analisadas 36.573 amostras de pacientes suspeitos e de profissionais de saúde, cujos resultados foram liberados entre 24h e 48h, permitindo democratização e agilidade no diagnóstico. Com o serviço, a Instituição também colaborou com o Laboratório Central do Estado (Lacen-RS), em um período cujo excesso de demandas impactou expressivamente o fluxo de análise e liberação de resultados por parte desse laboratório.

O diagnóstico molecular de Covid-19, com rápida liberação dos resultados, possibilita o manejo apropriado dos pacientes e, consequentemente, adequada atenção à saúde da população. Ainda subsidia gestores municipais com informações que auxiliam na tomada de decisões relacionadas à saúde pública e vigilância epidemiológica, bem como contribui para o retorno às atividades laborais, mantendo o controle da disseminação viral por meio da testagem periódica dos funcionários de diferentes empresas.

Nesse contexto, a atuação da equipe tem ocorrido em âmbito da Rede-Vírus do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), desde a sua primeira composição, em fevereiro de 2020, o que, paralelamente à detecção das amostras positivas, instiga ao aprofundamento do estudo na busca por soluções de enfrentamento à pandemia, baseadas em evidências científicas. Assim, no âmbito da Rede-Vírus foi formada a Rede Corona-ômica MCTIC/FINEP, coordenada pelo pesquisador Fernando Spilki, integrante do mestrado em Virologia.

Através dos recursos financeiros concedidos à Rede Corona-ômica, amostras positivas para SARS-CoV-2, provenientes do diagnóstico, têm sido sequenciadas por NGS (Next-Generation Sequencing), possibilitando o monitoramento das variantes virais em circulação, o acompanhamento da evolução viral, a identificação de mutações associadas à transmissibilidade e/ou à virulência, e a vigilância da resposta viral à vacinação.

Paralelamente, estão sendo desenvolvidos projetos financiados pelo Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS), que se intitulam “Evolução dos genomas de SARS-CoV-2 no panorama anterior e posterior à introdução de vacinas contra a Covid-19”, “Estratégias de capacitação para trabalhadores em saúde no enfrentamento a epidemias virais respiratórias na atenção básica” e “Vigilância ambiental de SARS-CoV-2”.

Tendo em vista, ainda, o compromisso da equipe com o atendimento a essa demanda de importância social, têm sido realizados estudos referentes à descoberta de imunobiológicos e antivirais para o tratamento e a prevenção de Covid-19, análise da circulação de coronavírus em animais e avaliação da imunopatogenia em pacientes adultos e pediátricos com Covid-19 leve, moderada e grave.

Depoimento

A parceria com a Universidade Feevale, em várias frentes de atuação, tem sido muito positiva para os avanços do município de Campo Bom. Especificamente na área da saúde, a relação não poderia ser diferente neste momento de pandemia, sobretudo pelo alto grau de confiabilidade dos testes e celeridade dos processos. Isso permite o isolamento do paciente, caso infectado, em tempo reduzido, iniciando o tratamento adequado e o acompanhamento médico, dando mais condições para se recuperar da doença. Com esse acerto com a Feevale, que sempre está inovando, Campo Bom e os municípios da região se tornaram os primeiros parceiros de uma universidade para esse fim.

Luciano Orsi, prefeito do município de Campo Bom.

Ações para suporte ao estudante durante a pandemia

- Programa de Empréstimos de Notebooks Feevale – PENF

O programa tem por objetivo contribuir para a inclusão digital dos alunos regularmente matriculados na Escola de Aplicação Feevale, em cursos de graduação presencial ou de pós-graduação da Universidade Feevale, propiciando-lhes a condição técnica para o desenvolvimento das atividades relacionadas ao ensino no período da pandemia.

Em 2020, foram disponibilizados 113 notebooks, beneficiando alunos matriculados nos diversos níveis de ensino, sendo priorizados aqueles inseridos nos programas de bolsa estudantil oferecidos pela Universidade, em conformidade com as condições dispostas na Lei nº 12.101/2009. Foram contemplados, prioritariamente, bolsistas da Escola de Aplicação Feevale e do Programa Universidade para Todos (Prouni), bem como alunos que possuem financiamento junto ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A solicitação é avaliada após o envio, pelo aluno, de e-mail para biblio@feevale.br,  com a justificativa da necessidade do equipamento. 

- Empréstimo agendado e digitalização de acervo

Esse serviço foi disponibilizado no período de pandemia e será mantido mesmo com o retorno das aulas presenciais. O empréstimo agendado consiste em atender à necessidade do aluno para acessar o acervo, seja digital ou físico. As solicitações devem ser feitas no Catálogo Online do Pergamum, onde os alunos selecionam os livros desejados. Após a solicitação, as bibliotecárias respondem a cada estudante, atendendo, prioritariamente, com soluções virtuais, sugerindo a possibilidade de digitalização de até 20% do conteúdo de cada livro solicitado e, por último, a retirada dos livros físicos, com o devido agendamento prévio.

- Atendimento agendado

Para garantir o atendimento à comunidade acadêmica, a Feevale manteve seus canais de comunicação – telefone, e-mail, chat, Fale com a Feevale, Ouvidoria e redes sociais – e disponibilizou, nas áreas pertinentes, o contato via WhatsApp. Para possibilitar o contato mais próximo, também foi criado o atendimento agendado via Colaborate – Blackboard para encaminhamento de questões administrativas e pedagógicas.

- Descontos em planos

Os alunos, professores e funcionários da Feevale tiveram acesso ao plano de descontos da Dell para aquisição de equipamentos, em continuidade à parceria já mantida com a empresa. Também foi ofertado o plano de telefonia com internet Claro Flex Universitário, com descontros especiais para alunos. As duas ações buscaram apoiar a comunidade acadêmica com a estrutura necessária para a realização das atividades em casa, conforme recomendação durante a pandemia.

- Estratégias financeiras

Para contribuir com a permanência dos alunos em suas atividades acadêmicas, em meio a eventuais dificuldades financeiras, a Instituição desenvolveu várias ações durante a pandemia. Entre os benefícios, está o pagamento parcelado das mensalidades com cartão de crédito, a dispensa dos encargos financeiros por atraso no pagamento, a não inscrição em órgãos de restrição ao crédito em decorrência de inadimplemento e a negociação de valores vencidos.

Depoimentos

Foi de extrema importância ter acesso aos notebooks da Feevale durante a pandemia, um momento tão difícil para todos. O empréstimo me auxiliou em todas as atividades de aula e de estágio. Sem isso, não teria conseguido realizar a construção, finalização e entrega do meu TCC com tanta tranquilidade. Não tenho mais de um PC em casa e estávamos todos com aulas e atividades remotas. Acredito que essa iniciativa deve se manter após pandemia, pois nem todos os alunos têm esse acesso em casa.

Daniessa Rodrigues, graduanda de Psicologia, beneficiada pelo programa de Empréstimos de Notebooks Feevale.

Em 2020, apesar de todas as notícias, fomos pegos um tanto de surpresa pela pandemia. De uma hora para outra, tivemos que nos adaptar a uma nova realidade que surgia. Migramos das aulas presenciais para as aulas on-line. Foi preciso ajustar os materiais de aula e, nesse sentido, a biblioteca da Universidade prestou um serviço fundamental. Mesmo com muitos espaços fechados, sem atendimento presencial, a demanda dos professores no preparo das aulas permanecia e a equipe da biblioteca sempre atendeu de forma imediata aos contatos por e-mail. Providenciou a digitalização dos materiais necessários em pouco tempo, mesmo quando era preciso buscar em outro câmpus. Além disso, quando preciso foi possível reservar e retirar os livros no balcão. Tudo com muito cuidado e atenção da equipe.

René de Moraes Ruduit, professor que utilizou o serviço de digitalização de livros oferecido pela Biblioteca da Feevale.

Comitê Covid-19

O Comitê Covid foi organizado a partir do Grupo de Gestão de Crises (GGC). Quando a pandemia causada pelo coronavírus começou, em março de 2020, o GGC entendeu ser importante a constituição de um grupo específico para tratar das questões relacionadas à Covid-19.

Constituído por profissionais de diferentes áreas, esse grupo reúne-se periodicamente a fim de desenvolver, implantar e acompanhar as ações de enfrentamento da Covid-19 junto aos funcionários, estagiários, prestadores de serviços e comunidade acadêmica.

Em parceria com o Comitê Covid, a Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) criou e divulgou diversos protocolos destinados ao enfrentamento da pandemia. Também foram elaboradas Orientações de Saúde e Segurança (OSS), que contribuem para a aplicação de medidas de prevenção da Covid-19.

Estudo mostra os núcleos urbanos mais vulneráveis ao contágio da Covid-19

No ano de 2020, o Programa de Educação Ambiental em Desastres (PEAD), que tinha como parte de suas práticas a atuação em territórios caracterizados pela vulnerabilidade social e com riscos naturais, adaptou as ações com o objetivo de contribuir no enfrentamento à Covid-19. Em parceria com o grupo de pesquisa Ambiente e Sociedade, o programa realizou um estudo para a determinação de núcleos urbanos mais vulneráveis ao contágio da doença, a partir da análise de variáveis sociais. 

Assim, foi possível apontar espaços, nos municípios de Novo Hamburgo, Campo Bom e São Leopoldo, que deveriam receber maior atenção nas estratégias de gestão por parte das administrações municipais, bem como da própria população. Desde o primeiro momento, essa investigação teve como direcionamento anseios típicos das ciências sociais e humanas, apoiadas pelas estratégias das ciências tecnológicas: responder como a ciência pode contribuir na minimização do contágio.

Esse trabalho apresentou um método importante para indicar territórios que devem ser alvo de ações orientadas a minimizar o impacto da dispersão do vírus e, assim, resultar em menores danos sociais às comunidades urbanas. Os resultados foram compartilhados com as administrações municipais e divulgados por meio dos veículos de comunicação, para fins de orientação da população.

Lives abordando a pandemia de Covid-19

A Universidade Feevale exerce papel fundamental no enfrentamento à Covid-19, possuindo profissionais com expertise na saúde, laboratórios com estrutura para diagnóstico e pesquisa do SARS-CoV-2 e projetos de extensão com suporte à população, além do papel social exercido por toda a Instituição.

No contexto de isolamento social, tornou-se essencial o uso de ferramentas digitais com o objetivo de compartilhar informações verdadeiras com a sociedade. A Feevale iniciou, através de seus vários canais, a transmissão de lives e vídeos sobre temáticas abordando a pandemia em seus mais diversos aspectos. As atividades ocorreram em diferentes formatos, como mesas-redondas, conversas com pesquisadores e extensionistas, tutoriais de como fazer máscaras caseiras e divulgação científica por membros dos laboratórios de diagnóstico de Covid-19 buscando desmentir fake news, entre outras propostas.

Houve um grande alcance nas redes sociais, inclusive com lives obtendo cerca de quatro mil visualizações. Essas ações possibilitaram interações em tempo real entre os participantes e o público, promovendo o engajamento da comunidade através desse acesso direto com profissionais com expertise na área. A informação compartilhada de forma transparente, com uma linguagem acessível, de forma gratuita e disponível a toda sociedade, impactou diretamente no dia a dia de milhares de pessoas, demonstrando a importância de ações que promovam a socialização do conhecimento.

Feevale representa o Brasil em projeto internacional

A Feevale é a única instituição de ensino do Brasil a integrar o projeto UnCover, que pesquisa a variabilidade dos aspectos clínicos da Covid-19 no mundo. A ação é liderada pelo Instituto de Medicina da Universidade da Antuérpia, da Bélgica, e conta com a participação de 30 instituições, localizadas em 18 países: Bélgica, Bósnia, Brasil, Colômbia, Coreia do Sul, Croácia, Espanha, Estados Unidos, Eslováquia, Grécia, Inglaterra, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Romênia e Turquia.

A Feevale foi convidada a participar devido à parceria que possui, há alguns anos, com a área de saúde da University of South Florida, dos Estados Unidos. As universidades participantes estão analisando os dados clínicos de milhares de pacientes para comparar as realidades dos países. Os pesquisadores querem entender como a Covid-19 se manifesta em diferentes populações, se tem variabilidade ou não, se realmente é possível classificar a doença no mundo inteiro de forma igual e se ela permanecerá com as mesmas características ao longo do tempo.

Depoimento

A Universidade Feevale foi pioneira entre as instituições de ensino e pesquisa do interior do Estado na implementação do diagnóstico do SARS-CoV-2, quando ainda registrávamos os primeiros casos de Covid-19, em março de 2020. Abrimos frentes de pesquisa que vão do monitoramento ambiental ao sequenciamento genético e estudo da evolução do vírus, sendo que a Universidade ocupa a posição de coordenação da Rede Corona-ômica.BR MCTI/Finep para a vigilância genômica em todo o território nacional. No âmbito internacional, participamos da rede UnCover, que reúne mais de 30 instituições, de 18 países, para o estudo da Covid-19. Com a realização desses projetos, estamos não só contribuindo para o enfrentamento da pandemia, mas formando uma geração de novos virologistas altamente capacitados.

Fernando Spilki, pesquisador e coordenador dos cursos de Medicina Veterinária e Ciências Biológicas.