A paixão do professor do curso de Jornalismo da Feevale, Marcos Santuario, pelos filmes começou na infância, por influência de um dos seus cinco irmãos, que gostava muito de assisti-los na televisão e no cinema. Além de assistir aos filmes, Santuario ouvia sobre os personagens e se motivava com as leituras realizadas pelo irmão. Esse gosto compartilhado foi o responsável pela relação de amor que o professor mantém há anos com a sétima arte. Neste ano, essa paixão fez com que Santuario conquistasse um dos espaços mais importantes do Festival de Cinema de Gramado: a curadoria. Junto com o jornalista Rubens Ewald Filho e o ator José Wilker, também curadores, o professor é responsável pelos filmes que serão julgados no festival deste ano.
Confira, abaixo, uma entrevista com o professor, que também é editor de cultura do jornal Correio do Povo:
- Tu te consideras um cinéfilo?
Na concepção da pessoa que tem paixão, que ama o cinema e que faz disso mais do que uma casualidade, sem dúvida, pois sou muito de assistir filmes. Eu assisto, pelo menos, um filme por dia.
- Tu te lembras da tua primeira cobertura do Festival de Cinema de Gramado? Como foi?
Não recordo com detalhes, mas, após trabalhar oito anos fora do país na área cultural, inclusive com cinema, voltei para o Brasil e fui trabalhar como repórter no jornal NH. Nesta época, apareceu a possibilidade de realizar a cobertura do Festival de Gramado, que para mim era uma coisa extremamente importante, altamente desafiante.
- Qual foi o sentimento ao ser indicado para a curadoria?
Eu destaco três sentimentos: o primeiro é a honra enorme, pois se trata de um dos festivais mais importantes da América Latina que, nesses 40 anos, sempre teve edições. O segundo é o prazer de poder dividir a curadoria com outros dois profissionais que admiro, acompanho as carreiras e respeito muito. E o terceiro sentimento é a responsabilidade de estar como curador nesta quadragésima edição. Neste momento, o festival olha para o passado e vê o que construiu, está de pé, no presente, vendo o que está sendo feito, e de olho no futuro, pensando no que vai acontecer nos próximos 40 anos. É uma responsabilidade muito grande recolocar, junto com os outros curadores, o Festival de Gramado neste universo da produção nacional e internacional.
- Quais são as atribuições do curador do Festival?
O trabalho básico e fundamental é ver filmes e selecionar os que se enquadrem com o perfil do festival. No caso do de Gramado, o olhar deve ser sobre os filmes bem produzidos, que tenham uma temática envolvente e que sejam representativos dos momentos contemporâneos da cinematografia do Brasil e dos países latinos.
- Qual a tua relação com os outros dois curadores?
Acompanho o trabalho tanto do Rubens Ewald Filho quanto do José Wilker, e fiquei muito feliz quando soube que seria curador ao lado deles. O Rubens, eu respeito há muito tempo, somos colegas hoje na rede Record. O José Wilker é um ator consagradíssimo, que tive o prazer de conhecer em outros festivais. Formamos um trio que se dá muito bem, já nos encontramos em vários outros festivais, também falamos por telefone e e-mail. Trabalhar com pessoas que tu gosta e admira é uma das melhores coisas que existem.
- Qual a importância, para a imprensa, de estar representada na curadoria do festival, por meio de um jornalista cultural?
Eu sou um dos membros fundadores da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (ABRACCINE) e da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (ACCIRS), e acabo me encontrando sempre com os colegas de ambas as associações nos festivais de que participo. Quando fui convidado, senti, também, esta responsabilidade, por fazer parte da crítica do cinema, que hoje faz parte de uma curadoria que pensa um olhar cinematográfico em um dos festivais mais importantes da América Latina.
- O Brasil possui muitos festivais de cinema, mas o de Gramado é, ainda, considerado o mais importante. Por quê?
Talvez eu não dissesse o melhor. Eu diria que ele é respeitado por ser o mais antigo sem interrupções. Também não é um festival que parou no tempo: penso que com a escolha dos novos curadores e da nova gestão, um dos objetivos seja se reinventar e reaproxima-se cada vez mais do cinema brasileiro e do cinema latino.
- Como você vê o atual cinema brasileiro?
Eu diria que o número de produções aumentou muito nos últimos tempos. Com isso, temos tido boas surpresas com diretores, atores e atrizes que têm surgido no universo dos festivais e no universo audiovisual.
- Podes nos dizer quais são as suas apostas para vencedores neste ano?
Existem vários possíveis vencedores, porque muito depende do que o júri vai perceber. Eu diria que os jurados terão dificuldades para escolher, pois há produções muito boas, tanto do cinema brasileiro quanto do latino.
- Como professor e pesquisador, o que a experiência com a curadoria de um evento tão importante vai acrescentar?
Eu não acredito no acaso, então o que está acontecendo comigo tem uma razão de ser, também, acadêmica. É uma questão universal, mas o Brasil está muito envolvido em um processo chamado economia da cultura, isto é, analisar as possibilidades de uma cultura que movimenta a economia, e está muito envolvido em um processo chamado economia criativa. A Feevale tem feito movimentos nos últimos semestres, desenvolvendo projetos e cursos na área da economia criativa. Sendo assim, penso que terei muitos elementos sobre as questões que envolvem o festival que irão me inspirar a pensar, escrever e pesquisar sobre o assunto.