27/11/2018 - Atualizado 11h29min
Professores iniciam capacitação em metodologias educacionais desenvolvidas no país nórdico
A Universidade Feevale mantém parceria com instituições de ensino da Finlândia há 12 anos. Um passo importante para aprofundar esse processo ocorreu neste mês, quando uma reunião marcou a concretização do programa de aprimoramento a partir de metodologias desenvolvidas no país nórdico. Os cinco professores selecionados em um edital interno do programa internacional Teaching and Learning in Higher Education se reuniram com Jarkko Wickström, diretor de Operações, Brasil e América Latina da Finland University, consórcio que reúne algumas das principais instituições de ensino do país: Universidade do Leste da Finlândia, Universidade de Tampere, Universidade de Turku e Universidade Åbo Akademi. O edital prevê a formação de docentes interessados em desenvolver ou ampliar as competências pedagógicas individuais e coletivas.
O acordo firmado em setembro deste ano com a Finland University tem foco em avanços dos projetos educacionais e em práticas inovadoras, prevendo a preparação de professores para que possam adotar metodologias e tecnologias de trabalho das instituições finlandesas. Está previsto um conjunto de ações centradas no desenvolvimento de pessoal e em projetos de ensino e de pesquisa. “Nossa pareceria com a Finlândia é para mudar o conceito da questão do ensino na Feevale em todos os níveis”, projeta o reitor da Feevale, Cleber Prodanov. “O centro do processo é o aluno e sua relação com o professor, e isso impactará todas as nossas ações.”
No Brasil, a Feevale foi pioneira no relacionamento com universidades da Finlândia: em 2006 com a Häme University of Applied Sciences (Hamk) e, em 2008, com a Universidade de Tampere. Celebrou outro acordo em 2012 com a VIA University College, da Dinamarca. A intensificação da relação entre essas instituições originou em 2016 um acordo trilateral, Beyond: Alliance for Knowledge (BAK). O principal objetivo desta aliança é ampliar ações para educação internacional, integrando grupos de pesquisa e internacionalizando empresas vinculadas aos parques tecnológicos das universidades parceiras, dentre outras ações de cooperação.
“Nossa relação com a Finlândia é um processo que vem amadurecendo com projetos em conjunto e pesquisa”, lembra Prodanov. “O que aceleraremos agora é a utilização do que a Finlândia tem de melhor, que é seu processo educacional. Vamos usar isso na capacitação dos professores, porque falar de Finlândia significa falar de qualidade educacional.”
O processo de formação docente na Feevale, decorrente do acordo com a Finland University, começa com Manuela Albornoz Gonçalves, Marco Antônio Mabília Martins, Marina Seibert Cezar, Paula Luce Bohrer e Roberto Affonso Schilling. Entre março e setembro do ano que vem, esses professores terão aulas ministradas por finlandeses em encontros presenciais em São Paulo e também na modalidade a distância. Na sequência, haverá uma multiplicação interna desse conhecimento. A previsão, conforme Prodanov, é de que em um ano todos os professores da universidade e da Escola de Educação Básica Feevale – Escola de Aplicação sejam capacitados. A parceria estabelece também a execução de projetos especiais e a criação de programas conjuntos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu.
Prioridade para educação
Rankings internacionais que aferem qualidade da educação entre diversos países posicionam a Finlândia no topo, em todos os níveis educacionais. Esse reconhecimento é fruto de investimentos e de metodologias desenvolvidas há pelo menos 160 anos, quando Uno Cygnaeus (1810-1888) criou o sistema educacional público finlandês. Ele estabeleceu uma metodologia própria, depois de viajar por vários países para conhecer o que havia de melhor em propostas educacionais.
Alguns dos princípios defendidos por Cygnaeus foram o caráter laico das escolas e a criação de uma faculdade para formação de professores, que começou a funcionar em 1862. Os recursos naturais da Finlândia eram água, madeira e frio, resumiu Wickström. Com a estruturação do sistema educacional, foi montada uma escola a cada 15 quilômetros nas zonas rurais.
Em 1969, houve uma grande reforma, que estabeleceu a igualdade como princípio e duas obrigatoriedades: todo cidadão deve estudar até o nono ano e todo professor precisa ter mestrado. Também foi criada uma didática específica para cada disciplina, fruto de pesquisas desenvolvidas para esse fim.
O investimento contínuo do país em educação acabou destacado pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), instituído em 2000, e que afere o desempenho escolar a cada três anos: a Finlândia venceu as três primeiras edições e ficou em terceiro lugar em 2009. Isso despertou um interesse grande pela educação do país.
Para Wickström, economia estável e desenvolvimento resultam de investimento em educação. Gráficos apresentados pelo executivo indicaram que a curva de investimento crescente em universidades tem um paralelo no desenvolvimento econômico. “Precisamos garantir que todos tenham acesso e em condições de igualdade”, comentou. “O espírito de competição e a padronização não funcionam.”
Ele definiu a receita educacional da Finlândia nos seguintes pontos: responsabilidade baseada em confiança; profissionalismo (“professor que sabe de educação”); cooperação entre professores e escolas; riscos controlados; testar coisas novas. “Podemos resumir em trabalho, continuidade, risco e experimentação”, disse Wickström. Ele destacou que a pesquisa feita a partir da prática é ferramenta importante para professores, principalmente na educação básica e nas escolas de aplicação. “Tudo o que fazemos é baseado em pesquisas desenvolvidas dentro das universidades.”
40 universidades
Na reunião que manteve com os cinco professores da Feevale, Wickström apresentou a Finland University, consórcio que atua no compartilhamento de práticas educacionais consolidadas e bem-sucedidas, que garantiram ao país notoriedade pela implementação de alguns dos principais pilares da educação no século 21. No total, existem 40 universidades no país. As chamadas científicas, estruturadas a partir da pesquisa e abrangendo todas as áreas do conhecimento nos mais diversos níveis, incluindo estágios pós-doutorais, totalizam 14. As outras 26 têm foco nas ciências aplicadas. Todas as universidades são públicas e oferecem formação básica de cinco anos, sendo três dedicados à graduação em tempo integral e dois ao mestrado. As de ciências aplicadas são responsáveis pela formação pedagógica dos professores do ensino básico ao superior.
Entre o final dos anos 1980 e início dos 1990, as universidades finlandesas passaram a praticar mobilidade acadêmica. Na atual fase de internacionalização, estão interessados em cooperação baseada não apenas no intercâmbio de alunos, mas na formação de professores e na criação de cursos de graduação e de pós-graduação. “Queremos parcerias estratégicas no Brasil”, afirma Wickström. Ele salientou que a natalidade na Finlândia é muito baixa, então a abertura das universidades para o mundo se torna estratégica para evitar que as instituições se tornem ociosas. Outro efeito dos baixos índices demográficos é a falta de mão de obra. O país tem cerca de 2 mil startups que, nos próximos anos, demandarão de 10 mil a 15 mil profissionais. “Não há mão de obra suficiente”, reconheceu.
Ao tratar do processo de expansão internacional da Finlândia no campo educacional, Wickström apontou cinco áreas em que o país detém o melhor conhecimento mundial para oferecer: tecnologias de informação e comunicação (TICs), formação de professores, saúde, ciências do meio ambiente e administração pública. As instituições que compõem a Finland University oferecem 67 mestrados cujas aulas são em inglês. Wickström reconhece que isso se torna necessário devido à dificuldade de se aprender finlandês. Se não for considerada a questão do idioma, a oferta salta para cerca de 700. No que tange aos cursos de especialização (lato sensu), há uma infinidade de possibilidades que decorrem dessas cinco áreas, estruturados de forma híbrida, com períodos presenciais e a distância.
“A Feevale é uma universidade internacional com qualificada rede de parceiros em 27 países. Dentre eles, a Finlândia está em primeiro lugar em ações conjuntas de cooperação com programas inovadores em qualidade ambiental, energias renováveis, saúde e bem-estar, indústria criativa, smart services, gestão estratégica e outros”, detalha a diretora de Relações Internacionais e Institucionais da Feevale, Paula Casari Cundari. “Agora essa importante ação focalizada na formação de docentes multiplicará o conceito educacional e a disseminação das metodologias finlandesas em toda instituição.”