Modelos preveem ocupação de até 144% em janeiro no Vale do Sinos se medidas mais restritivas para conter o avanço da pandemia de Covid-19 não forem tomadas
O mestrado em Virologia da Universidade Feevale realizou uma projeção do número de casos de Covid-19 e internações em decorrência da doença no Vale do Rio dos Sinos para as próximas semanas e os números são preocupantes. Em um cenário mais pessimista, a ocupação nas Unidades de Terapia Intensiva na região estaria em 137% no Natal, por exemplo, enquanto o número de casos novos, em 4.697 naquela semana. Na primeira semana de janeiro, estes números saltariam para 144% e 5.394, respectivamente, se não forem tomadas medidas adicionais para conter o avanço da pandemia. O estudo foi feito sob a coordenação do professor Fernando Spilki, com o apoio do epidemiologista Eduardo de Freitas Costa.
A simulação foi realizada a partir de dados da pandemia na região até esta sexta-feira, 4 de dezembro. Para o cálculo, foram usados modelos de séries temporais para a predição semanal da porcentagem de ocupação em UTI (modelo de suavização exponencial), do número de casos e do número de internações (regressão com erros Arima*). “Basicamente, as informações disponíveis nas bases de dados dos serviços de saúde foram utilizadas para fornecer evidências de como a ocupação, número de casos e número de internações tendem a se comportar no futuro se mantidas todas as condições”, explica Costa.
O professor Fernando Spilki explica que o cálculo projeta três cenários: um pessimista, um otimista e um médio. Qualquer um dos modelos prevê o que acontece se não for tomada nenhuma medida mais restritiva, além do que já está sendo feito. “As projeções dessa semana já estão muito próximas do que estamos verificando no modelo mais grave”, diz. O pesquisador lembra que o resultado real pode, ainda, ser influenciado se não for realizada a quantidade necessária de testes necessária para se chegar a esses números e que, comparando a predição aos dados da curva nas últimas duas semanas, parece que se está chegando a uma limitação, também, na capacidade de diagnóstico. “O modelo também não considera o que pode ocorrer de pior se não forem observados o distanciamento necessário, por exemplo, nas festividades de Natal e Ano Novo.”, observa. Os cálculos serão atualizados com os dados obtidos ao longo do período.
Em qualquer um dos cenários, conforme Spilki, se não forem tomadas medidas de contenção da epidemia na região, a partir de uma determinada semana, já se atinge o esgotamento do sistema de saúde. “O que chama a atenção é que, mesmo no cenário mais otimista, a situação é preocupante e, a partir do que estamos observando nessa semana, já encontramos o cenário mais grave”, projeta. O professor diz que o modelo é uma ferramenta que mostra que, realmente, precisam ser tomadas medidas mais restritivas para impedir o aumento do número de casos, os quais impactam nos sistemas de saúde. “
Precisam ser repensadas reuniões e comemorações de final de ano, Natal e Ano Novo. A própria predição não inclui o agravamento que pode ser causado por esse tipo de evento”, conclui Spilki.
Para o epidemiologista Eduardo de Freitas Costa, este trabalho é um importante sinalizador da conscientização dos gestores públicos sobre a necessidade de abordagens populacionais para a tomada de decisões em saúde coletiva.
Esta pandemia não só reforça a necessidade de trabalhos como esse, mas, também, exige proatividade no sentido de institucionalizar a epidemiologia nos órgãos de gestão estratégica de saúde”, afirma o epidemiologista Costa.
*Arima é uma sigla do inglês: Auto-regressive integrated moving average, ou em portugês, Modelo autorregressivo de médias móveis