10/11/2017 - Atualizado 15h31min
Oficinas visam debater e diminuir o preconceito racial na sociedade
Aruanda é uma palavra originada de religiões da África, que significa "paraíso”, além de ter forte significado entre as populações negras. Ao utilizar a palavra para dar nome ao projeto social Aruanda: a voz da juventude negra, a Universidade Feevale buscou fortalecer e valorizar a cultura e o movimento negro e as crenças africanas. O objetivo central das atividades é estimular a visibilidade social, a autoestima e o protagonismo político-cultural das crianças e jovens de seis a 12 anos de idade, pertencentes às comunidades afrodescendentes de Novo Hamburgo. Os encontros são semanais e propõem a exposição e o debate de temas como etnicidade, história e características culturais do povo negro.
Iniciadas em 2016, as atividades integram o programa Niara - Nutrindo Identidades e Afirmações Raciais da Feevale. O projeto se coloca em articulação com os espaços de ensino, pesquisa e extensão, para promover reflexões aos acadêmicos da Universidade, a fim de contribuir para a formação de profissionais alinhados com a perspectiva da diversidade de grupos étnicos e culturais do Brasil. As ações passam por escolas do município e são desenvolvidas entre 10 e 12 semanas, período em que os professores ministram oficinas nas áreas de Artes Visuais, Antropologia, Comunicação e História. Neste semestre, o projeto acontece na Escola Municipal de Ensino Fundamental Elvira Brandi Grin, no bairro Rondônia,e conta com professores e acadêmicos bolsistas e voluntários da Instituição.
Segundo a professora responsável pelo projeto, Inês Caroline Reichert, Novo Hamburgo construiu uma imagem e identidade associada à população germânica que imigrou para a região no século XIX. Porém, em sua origem, a região contou com contribuições culturais de diferentes povos, como os indígenas, os colonos açorianos e as populações negras, que ao final do século XVIII, foram trazidos para o município como principal mão de obra na produção de linho para confecção de cordas de embarcações. "A luta da população afrodescendente por visibilidade na história e no cotidiano da cidade ainda está em andamento, em movimentos que questionam as historiografias clássicas, reconstroem memórias e itinerários, reorganizam sentimentos e valores coletivos", afirma.
Inês também aponta que, mesmo que a população negra e/ou com ascendência africana seja 54% da população brasileira – dado disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -, não existe representatividade nessa proporção de negros nos meios de comunicação e em outros espaços importantes da sociedade. "A efetivação de uma igualdade social para as populações negras no Brasil ainda é uma luta com a qual todos precisam se envolver, tanto no que diz respeito ao aprofundamento das políticas afirmativas, quanto em ações de combate ao racismo. O Aruanda tem uma importância ímpar e realiza ações afirmativas que busquem trabalhar a autoestima, o empoderamento e a voz de negros e negras para que se tornem centrais, e assim, atuar na modificação dessa situação”, explica.
As oficinas também proporcionam momentos de produção de gravações no encerramento das atividades na escola, realizadas pelos próprios alunos, em um processo de autoria que estimula a construção do protagonismo desejado pelo projeto. A professora Rosana Vaz Silveira, que auxilia nessa atividade, acredita que as ações proporcionam um espaço de diálogo para os beneficiados. “A nossa função é gravar tudo o que acontece durante o projeto para produzir um documentário que mostre como os alunos se registram e como eles se questionam sobre as coisas. Buscamos resgatar os conceitos que foram trabalhados na sala de aula”, diz.
“Acho bem bacana o que os alunos trazem nas oficinas de artes. Quando elaboramos uma atividade com máscaras, por exemplo, eles nos surpreenderam com o que apresentaram e pudemos ver o quanto estão antenados com os problemas da sociedade”, falou Dionéia Moraes, acadêmica de Artes Visuais e voluntária do projeto, que participa do projeto desde julho. Para a aluna da escola municipal, Vitória Nunes Caetano Pereira, de 12 anos, as oficinas têm a mesma importância em seu aprendizado. “O mais importante que eu aprendi no projeto é que todos somos iguais”, finalizou.
As atividades permanecerão na Escola Elvira Brandi Grin até o dia 5 de dezembro, todas as terças-feiras, das 15h às 17h. As escolas que recebem o projeto são indicadas pela Secretaria Municipal de Educação (SMED) da Prefeitura de Novo Hamburgo.