Evento teve como principal destaque a volatilidade cambial para as exportações de calçados
O impacto da volatilidade cambial para as exportações de calçados dominou as conversas durante o painel “Os caminhos da Exportação de Calçados”, realizado nesta quarta-feira, 27 de fevereiro, durante o Fórum da Fimec, na 43ª Feira Internacional de Couros, Produtos Químicos, Componentes, Máquinas e Equipamentos para Calçados e Curtumes - Fimec. O evento, que contou com apoio da Universidade Feevale, contou com a presença do presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein; e dos diretores da Fuga Couros, Sunset, Spectrum Shoes e Orisol do Brasil, Eduardo Fuga, João Fernando Hartz, Nelson German e André Hamester da Rocha, respectivamente.
Realizando um histórico das exportações de calçados do Brasil, os painelistas foram unânimes em destacar o impacto do câmbio nos embarques, especialmente a partir de meados dos anos 90, com a adoção do Plano Real, equiparando a nova moeda brasileira ao dólar. Antes de nova moeda, em 1993, chegaram a ser embarcados mais de 200 milhões de pares, número que caiu para 138 milhões dois anos depois. Segundo Klein, o impacto de uma valorização da moeda brasileira sobre o dólar faz com que o produto nacional fique mais caro no exterior, prejudicando a competitividade. Já German, concorda e ressalta que os agentes de exportações, seu caso, são “sobreviventes” de tempos muito difíceis. De fato, muitas empresas da região do Vale do Sinos, onde se realiza anualmente a Fimec, fecharam as portas em função da equiparação do real com a moeda norte-americana.
Corroborando com as primeiras colocações, Hartz destaca que pior do que uma moeda brasileira supervalorizada é a imprevisibilidade. “Um dia o dólar tem um valor, no outro muda completamente. O que falamos para os clientes na negociação?”, questiona.
Eduardo Fuga, ressalta que o curtume já deixou de curtir 60% das peles, que tem como destino o mercado de rações e derivados. Apenas um reflexo da crise pela qual passa o setor, não somente no mercado doméstico, mas também no exterior. Segundo o empresário, o Brasil perde em competitividade para a maior parte dos concorrentes. “Na Itália, por exemplo, se consegue curtir um couro de qualidade com 20% menos custos”, conta.
Potencial do calçado nacional
Apesar dos problemas de competitividade causados pelo alto custo de se produzir manufaturados no Brasil, Klein destaca o potencial do calçado nacional, que mesmo sendo comercializado em menor volume para o exterior, tem aumentado o número de destinos. “Temos uma produção multifacetada e flexível. Dessa forma, mesmo com todos os problemas provocados pelo Custo Brasil, estamos em mais de 160 países”, aponta. Segundo o executivo, contribui para isso, o fato de as indústrias, mesmo com dificuldades, estarem apostando em marca própria e qualidade. “Algumas empresas optam pelo mercado doméstico, outras buscam a exportação. O fato é que, para enviar o seu produto para o exterior, é preciso conhecer o mercado local, suas características e suas preferências, que certamente não são as mesmas do nosso mercado interno”, frisa.
Para Klein, o momento é bom para as exportações brasileiras, mas é preciso que o setor esteja organizado e cobre medidas de redução dos custos produtivos junto ao Poder Público. “Existe uma controvérsia acerca da abertura comercial do Brasil, reduzindo a média do imposto de importação de 14% para 4%. No caso dos calçados, essa redução deve ser de 35% para 14% ou 15%. Nas condições atuais de produção, com o Custo Brasil, isso seria desastroso, pois iria nos colocar em competição desigual com uma avalanche de produtos estrangeiros provenientes de países onde não existem esses altos custos produtivos. O que o governo brasileiro tem sinalizado, e é positivo, é de que essa abertura seria gradual e concomitante com a redução do Custo Brasil, o que nos tornaria competitivos”, comenta, acrescentando que, caso efetivado esse compromisso, o produto brasileiro ficaria forte para a competição no mercado doméstico e ganharia um impulso no mercado internacional, com condições melhores de preço. “Também existe um espaço deixado pela China, maior produtor e consumidor do setor no mundo, que vem diminuindo a sua produção de calçados e aumentando o consumo interno”, recorda.
Hamester, ressalta que a indústria brasileira de calçados, por ser a maior produtora do setor no Ocidente, tem enorme potencial de crescimento no continente americano. Segundo ele, os países do continente consomem 3,5 bilhões de calçados por ano e produzem 1,5 bilhão, ou seja, 2 bilhões dos pares consumidos são exportados, especialmente da Ásia. Klein faz coro e comenta, ainda, que o Brasil tem um parque industrial diferenciado, com uma cadeia integrada, completa e harmoniosa, o que não ocorre em países concorrentes. “Também somos autossuficientes, tudo o que precisamos para produzir está aqui. Então, o que precisamos é buscar melhores condições de competitividade, mostrando ao Poder Público o potencial do setor, especialmente no que diz respeito à capacidade de geração de empregos", conclui.