O Museu de Arte do Rio Grande do Sul – MARGS apresenta, de 6 de junho a 11 de agosto, uma grande mostra que vai abordar vários aspectos das relações entre Arte e Medicina. Serão exibidas obras de 47 artistas, sendo 28 pertencentes ao acervo do MARGS e 19 trabalhos de artistas convidados, já existentes ou produzidos especialmente para a exposição. A professora do curso de Artes Visuais da Universidade Feevale Alexandra Eckert (foto) participa da mostra.

A exposição De Humani Corporis Fabrica – Anatomia de relações em Arte e Medicina será na Pinacoteca e galerias laterais do MARGS, com abertura nesta quinta-feira, dia 6 de junho, às 19h. A visitação é de terças a domingos, das 10h às 19h, com entrada gratuita.

A mostra traz peças de outros universos museológicos, em especial dezenas de objetos do acervo do Museu da História da Medicina do RS (MUHM), os quais vão ser intercalados com as obras de arte, num diálogo entre esses dois campos distintos, dentro da ótica da transversalidade. O resultado é uma intersecção entre a criatividade do artista e a memória histórica da medicina. A curadoria é José Francisco Alves, curador-chefe do MARGS e professor de escultura do Ateliê Livre da Prefeitura de Porto Alegre.

No dia 28 de maio, obras do acervo do Museu de Arte do Rio Grande do Sul foram examinadas na SIDI – Medicina por Imagem. Os resultados serão apresentados na exposição sobre Arte e Medicina. A proposta vai apresentar algo inédito em exposições no Rio Grande do Sul: imagens de obras de arte do acervo do museu reveladas por meio de exames médicos de alta tecnologia, como ressonância magnética e raios X. O objetivo dessa ação, que conta com o apoio da SIDI – Medicina por Imagem, é revelar aspectos ocultos, internos à própria essência das obras de arte mas que não podem ser visualizados a olho nu. 

Exposição que aborda as relações entre arte e medicina oferecendo uma versão ampliada e contemporânea do assunto. Como tem sido recorrente nas exposições do MARGS, esta exposição apresenta um significativo volume de obras da coleção do museu, complementada por obras de outras coleções e de estúdios de artistas. A exposição percorre assim um arco histórico entre meados do século 19 até a contemporaneidade. Arte e Medicina oferece uma fascinante experiência sobre este que é um tema recorrente na história da arte, passando pelas lições de anatomia, da abordagem da morte, dos estudos radiográficos da obra de arte, das mazelas da doença a representação do corpo como um retrato da natureza material e espiritual do ser humano. 

Em uma intrincada rede entre arte e medicina a exposição mostra que estas duas disciplinas do conhecimento cruzaram-se inúmeras vezes e que sua interseção se mostra recorrente ao longo da história da arte. Nesta exposição um interesse particular foi atribuído às questões sociais, morais, políticas e religiosas da medicina e sua consequente manifestação na obra artística ao longo de diversas ocorrências artísticas. Artistas tem se mostrado fascinados pelo assunto e a constituição de uma exposição como esta se mostra digna, e porque não dizer, indispensável de ser realizada em algum momento por um museu como o MARGS. 

Não é possível deixar de considerar as interconexões intelectuais entre as obras de arte e os objetos incluídos nesta exposição, que pertencem à história da medicina, empréstimos estes realizados de diversos acervos museológicos que promovem instâncias de justaposição já recorrentes em outras exposições do MARGS na Gestão 2011/14. Se, por um lado, a inovação curatorial que o museu vem promovendo no contexto local é única e surpreende, já que é papel das instituições museológicas promover exposições originadas dentro de suas premissas. Por outro, a investida em uma exposição com este teor assinala a intenção do museu de investigar as mais diversas abordagens da atividade curatorial, desde que esta venha a promover conhecimento inovador e original através de estratégia de curadoria antes de tudo inéditas em sua articulação conceitual. Sabe-se que o assunto “arte e medicina” não é inédito, mas esta mostra introduz consideráveis inovações que acreditamos complementarem, e até mesmo superarem, outras abordagens quando se trata da envergadura estética e criativa que a exposição investe e aborda.

Cabe por fim, fazer uma associação entre arte e atividade de curar empreendida pelo curador, que assinala a introdução de um componente metafórico da ordem da especificidade cultural da curadoria. Introduzida neste contexto, coincidente e apropriado, o mecanismo curatorial, expresso na designação de “cuidado”, designa a exposição como sendo de caráter conceitual/ideológico, visto que, em uma hierarquia das disciplinas entre humanidades e ciência, a primeira torna-se investida de considerável força já que a arte pode também “salvar vidas”. 

Gaudêncio Fidelis, diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul