17/11/2014 - Atualizado 13h43min
A partir do projeto, que conta com a parceria da Université Laval, do Canadá, membranas poderão ser produzidas no Brasil, que hoje importa o material
Professores Serguei Dimitrivich Mikhailenko e Fabrício Celso, no Laboratório de Beneficiamento
Na Universidade Feevale, uma pesquisa em parceria com a Université Laval, do Canadá, investiga uma tecnologia para tratamento de efluentes. O estudo, denominado Desenvolvimento de membranas aniônicas para eletrodiálise, consiste em utilizar uma das técnicas de separação por membrana – a eletrodiálise, que emprega membranas íons-seletivas*. A eletrodiálise proporciona uma alta qualidade do efluente tratado, o que possibilita a reutilização deste pela indústria e, ainda, a recuperação de íons metálicos. O projeto visa ao desenvolvimento de materiais e métodos de fabricação nacionais para a obtenção de membranas aniônicas aplicadas em eletrodiálise.
Coordenado pelo professor Marco Antônio Siqueira Rodrigues, o projeto foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), contemplando ainda uma bolsa de pós-doutorado e um ano de bolsa de doutorado na Universidade do Canadá, para um aluno do curso de pós-graduação em Qualidade Ambiental da Feevale. O projeto está inserido na linha de pesquisa em Tecnologias Ambientais e é desenvolvido conjuntamente com outro projeto aprovado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no âmbito do Fundo Tecnológico BNDES, o Funtec. A proposta é produzir membranas catiônicas, separadores de fluxo e um equipamento piloto de eletrodiálise de 10 m3/h.
De acordo com o professor Fabrício Celso, colaborador no projeto, a ideia principal é desenvolver membranas que possam ser produzidas no Brasil a custo competitivo com as membranas atuais, que são importadas. “A sustentabilidade decorre da aplicação da técnica de eletrodiálise, principalmente no tratamento de água potável, tratamento de efluentes industriais, tratamento de esgoto municipal, entre outras aplicações da técnica”, explica. A pesquisa é realizada no Laboratório de Estudos Avançados em Materiais, no prédio Azul, e no Laboratório de Beneficiamento, localizado na Oficina Tecnológica, ambos no Câmpus II. O projeto tem a parceria da Hidrodex Engenharia e Perfuração Ltda.
Ainda conforme o professor Celso, a principal diferença da técnica de eletrodiálise para outros métodos de tratamento de água e efluentes industriais e municipais está relacionada à maior eficiência na remoção de poluentes persistentes de pequeno tamanho como, por exemplo, os metais pesados. No Brasil, a Petrobras é pioneira no emprego dessa técnica, que é globalmente conhecida e difundida, com aplicação em diversos mercados, desde tratamento de água, efluentes industriais e esgoto municipal, até a separação e concentração de insumos de alto valor agregado na indústria alimentícia, farmacêutica e de suplementos esportivos, entre outros. Na Feevale, atualmente há dois projetos nos quais a eletrodiálise é utilizada: um que conta com fomento da Secretaria da Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico do Estado do Rio Grande do Sul (SCIT), realizado em parceria com o Comitê de Fomento Industrial do Polo Petroquímico (Cofip-RS) e a empresa Braskem; e outro com a Companhia de Serviços de Água e Esgoto de Novo Hamburgo (Comusa).
* A eletrodiálise emprega membranas íon-seletivas, separadores de fluxo e campo elétrico de corrente contínua.
Colaboração entre pesquisadores se iniciou em 2008
Entre 2008 e 2009, o professor Fabrício Celso realizou pós-doutoramento na Université Laval, por meio de bolsa concedida pelo Canadian Bureau for Internationa Education (CBIE), com o objetivo de desenvolver e caracterizar membranas aplicadas em célula a combustível. Em 2012, o professor Serguei Dimitrivich Mikhailenko, da Université Laval, foi pesquisador visitante por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na Feevale, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), auxiliando na implementação de equipamentos e metodologias para caracterização eletroquímica de membranas para uso em eletrodiálise e célula a combustível.
Em 2013, foi aprovado um projeto na Chamada N° 71/2013 Pesquisador Visitante Especial Ciência Sem Fronteiras do CNPq, que proporciona que o professor Mikhailenko seja pesquisador visitante na Universidade Feevale durante três meses por ano, por um período de três anos. A convivência do pesquisador com os alunos de graduação e pós-graduação da Instituição tem proporcionado a construção de um espaço privilegiado de aprendizado para os mesmos. O professor Mikhailenko permaneceu durante três meses em Novo Hamburgo para o desenvolvimento da pesquisa.
Brasil precisa promover o desenvolvimento de tecnologias limpas
O Relatório da Conjuntura dos Recursos Hídricos do Brasil, realizado pela Agência Nacional de Águas (ANA), divulgou o diagnóstico de mais de 1.700 pontos analisados quanto à qualidade das águas e revela que várias bacias hidrográficas estão comprometidas devido ao grande lançamento de esgotos domésticos e de efluentes industriais sem tratamento adequado, especialmente nas regiões metropolitanas (ANA-2011). Neste sentido, o ritmo de desenvolvimento do parque industrial brasileiro tem gerado uma crescente preocupação ambiental devido à contaminação ambiental por metais pesados e outras substâncias tóxicas.
O tratamento de efluentes é um conceito novo no Brasil, pois muitas empresas brasileiras possuem uma estação de tratamento de efluentes há menos de 20 anos. Mesmo assim, os métodos convencionais normalmente utilizados para o tratamento de efluentes apresentam algumas limitações, principalmente no que diz respeito ao atendimento aos limites residuais no efluente tratado impostos pelos órgãos de controle ambiental, os quais nem sempre são facilmente alcançados. Assim, há uma crescente necessidade de promover o desenvolvimento de tecnologias limpas no Brasil no sentido de diminuir e evitar a contaminação dos recursos hídricos, além de promover o reuso de água no setor industrial.