Estudo nacional busca compreender o impacto na pandemia na rotina dos trabalhadores brasileiros
O ano marcado pela pandemia foi desafiador para todos. A realidade modificada de uma hora para outra, em razão de um vírus com efeito mortal, alterou a rotina e a jornada de trabalho em todos os cantos do mundo. No Brasil, a situação não foi diferente, mas para os professores, em especial, 2020 termina de uma forma amarga, que levou muitos deles à exaustão e sem condições emocionais para planejar o futuro, seja no ensino público ou no privado, na educação básica ou na universidade.
Esse é o diagnóstico de uma pesquisa nacional que busca dar visibilidade às vivências e entender os sentimentos dos trabalhadores relacionados ao trabalho neste período pandêmico, bem como o impacto da Covid-19 nas suas rotinas profissionais. O estudo ProjeThos é realizado pela professora Carmem Giongo, da graduação e do mestrado em Psicologia da Universidade Feevale, em parceria com os docentes Karine Vanessa Perez (Universidade de Santa Cruz do Sul – Unisc) e Bruno Chapadeiro (Universidade Federal de São Paulo – Unifesp).
Seis meses após o início do levantamento, a pesquisa mostra que mais 70% dos professores estão em teletrabalho. Segundo o estudo, 50% dos educadores fazem menos intervalos, 55,4% deles dizem estar trabalhando mais e 58,3% dos entrevistados estão com mais atividades fora do horário de trabalho.
A preocupação aumenta quando o tema é a saúde física e mental desses profissionais. 59,6% deles estão cuidando menos da postura e quase 80% professores estão interagindo menos com os colegas e realizando mais atividades domésticas, ao mesmo tempo que 65% dos educadores dizem estar cumprindo as mesmas ou mais metas e prazos. Com o cenário de incerteza sobre a volta à rotina presencial ou a continuidade das aulas remotas, 90% dos profissionais da educação estão preocupados, 60% dizem estar cansados e 67,2% com dificuldades de planejar o futuro.
A pesquisadora Carmem Giongo destaca que, no que se refere aos sentimentos relacionados ao trabalho, as palavras mais citadas pelos educadores estão relacionadas à angústia, tristeza, desmotivação, exaustão, cansaço, estar perdido, oprimido e sem esperança.
Essas expressões estão associadas a vivências e a preocupação com os prejuízos ao processo de ensino-aprendizagem dos alunos, além da dificuldade de acompanhamento e oferta de suporte social, tradicionalmente oferecidos pelas escolas”, analisa.
Como estratégias que poderiam ser implementadas visando à melhoria do trabalho, a pesquisa aponta ações como a implementação de grupos de apoio, trocas de conhecimentos sobre aulas remotas, redução das metas, prazos e da carga de trabalho e interrupção total das atividades.
Em contrapartida, o que mais marcou para os professores neste contexto de pandemia foram as precárias condições socioeconômicas dos alunos, situações de ameaças frente aos contratos de trabalho e emprego, demissões e abusos praticados pelas instituições de ensino, assim como o desrespeito à situação emocional dos professores e falta de apoio e de convivência com os colegas”, finaliza.