Para homenagear os profissionais e colegas no Dia do Médico, comemorado em 18 de outubro, o professor Leandro Minozzo (foto), do curso de Medicina da Universidade Feevale, escreveu um artigo. Confira!
Dia do Médico em 2020: estamos presentes
Entre as datas comemorativas, o dia 18 de outubro é uma das que mais me traz alegria e desperta reflexões. Num tempo difícil de pandemia, quando o cuidado com a saúde e a recuperação dos doentes é a pauta global, fica até mais fácil prestar homenagens a mulheres, homens, jovens, idosos, filhos da cidade ou imigrantes que se dedicam à essa arte entrelaçada de ciência, que é a medicina.
Em 2018, dediquei textos comemorativos destacando a visão de Moacyr Scliar sobre os médicos gigantes que a sociedade brasileira necessitaria. Detectava, naquele outubro, dificuldades em ajudar as pessoas em meio à crise econômica e ao crescimento de intolerância. Qual seria, afinal, o papel social do médico nesse tempo?
Ano passado, contaminado por dilemas didáticos em ter que ensinar alunos de medicina a fazer consultas com humanização e, ao mesmo tempo, ler notícias sobre máquinas com inteligência artificial alcançando bons desempenhos em tarefas clínicas, manifestei que não deveríamos temer: os robôs. Foi uma pequena ode à nossa capacidade de empatia, de compaixão e de humanidade.
E agora, em 2020, o que dizer? O caminho de homenagem mais óbvio seria aquele do heroísmo de centenas de milhares de colegas, acompanhados de seus estetoscópios desde aldeias amazônicas até os grandes hospitais, dos atendimentos em casa até as UTIs.
Não sei, porém, se heroísmo é a palavra correta. Herói é ser extraordinário, é sacrificar-se além do esperado, fazer a partir de capacidades sobre-humanas. É pontual. Por mais que a palavra possa caber – tivemos quase 300 colegas mortos pela Covid-19 e muitos com sequelas físicas e mentais –, não vejo nos médicos os heróis, muito menos os santos, porque cuidamos, mesmo nessa pandemia, com a disposição natural, desempenhamos o papel que nos foi confiado.
Em meio a máscaras, cumprimentos de cotovelos, exames, diagnósticos, tomografias e oxigênio, estivemos presentes. Estivemos e estamos com o toque, com a escuta. E, mesmo abafada, nossa voz tem sido importante instrumento para afastar o pior para pacientes e familiares: a solidão na dor e na incerteza.
A nós foi confiada a tarefa de acolher, de não deixar o desamparo aumentar o sofrimento. Fomos, junto a colegas de outras profissões da saúde, a mão que amparou quando o chão se abriu na vida de tantos. Mesmo abatidos, confusos por horas de glória e dias de impotência, mantivemos a presença, a voz e o toque; aumentamos a confiança que a sociedade deposita em nós.
Colegas, que hoje possamos agradecer pela nossa profissão e, num gesto de amor próprio, cuidarmo-nos um pouco. Que possamos aceitar de coração aberto as orações de agradecimento, gesto máximo de gratidão que recebemos. Na pandemia, somos, mesmo que não percebemos, parte de uma estrutura humana teimosa que leva ao futuro, a um lugar melhor: a ponte da esperança.
Leandro Minozzo
Médico e professor de Medicina da Universidade Feevale