11/09/2015 - Atualizado 15h18min
Exposição “Narrativas afetivas” pode ser conferida em Canoas até o dia 8 de outubro
A professora da Universidade Feevale e artista plástica Alexandra Eckert realiza, até o dia 8 de outubro, a mostra Narrativas afetivas, na Casa das Artes Villa Mimosa, em Canoas. Na exposição, a professora apresenta trabalhos inéditos, mas que integram suas pesquisas recentes com impressões em serigrafia. A curadora-assistente da Fundação Bienal do Mercosul, Ana Zavadil, analisa as obras da artista como uma busca incessante pelo aprimoramento técnico e inventivo, sempre passando pelo coração e suas significações e ressignificações. “O coração é o elemento que transita entre diversos tempos e representa, plasticamente, as memórias e sentimentos de Alexandra Eckert”, comenta. A crítica completa pode ser lida mais abaixo.
SERVIÇO
Exposição Narrativas afetivas, de Alexandra Eckert
Local: Casa das Artes Villa Mimosa (Avenida Guilherme Schell, 6270, Canoas)
Visitação: até 8 de outubro
Entrada: gratuita
Horário: de segunda a sexta-feira das 9h às 18h e, em finais de semana, das 13h às 18h
Sobre Alexandra Eckert
Artista visual e pesquisadora, Alexandra é licenciada em Educação Artística (1993), Bacharel em Cerâmica (1995) e Mestre em Poéticas Visuais (2000) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e doutoranda em Processos e Manifestações Culturais pela Universidade Feevale. Realiza exposições individuais e coletivas em diversos países desde 1992. Suas pesquisas desenvolvem-se nos campos da gravura, cerâmica, livro de artista, instalação e ações colaborativas em arte. É docente na graduação e pós-graduação em Artes Visuais e Design Gráfico da Universidade Feevale e, desde 2014, coordena a Pinacoteca da Instituição. Tem obra nos acervos do Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS), Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS), Pinacoteca Municipal de Novo Hamburgo e Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo da Universidade Federal de Pelotas.
Coração: singular no plural
Por Ana Zavadil
Curadora independente. Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com ênfase em História, Teoria e Crítica de Arte. Curadora-assistente Fundação Bienal do Mercosul.
Coração: órgão oco e musculoso, centro motor da circulação do sangue. Simbolicamente falando, é o símbolo do amor e representa a força, a verdade, a justiça, a sabedoria, a intuição, o divino, o espírito, o nascimento e a regeneração. O coração que está no centro da vida está também no centro da obra de Alexandra Eckert e aparece com uma recorrência de 15 anos. Porque não dizer que as definições acima reverberam nos trabalhos que podem ser vistos? Afinal, amor, força, verdade, intuição, nascimento e regeneração, estão nas Narrativas afetivas que representam. Podemos encontrar esses conceitos e tantos outros em cada uma das séries, pois elas ultrapassam o sentido visual para estabelecerem uma abertura conceitual.
O coração é o elemento que transita entre diversos tempos, do passado ao presente e vice-versa, representando plasticamente as memórias e sentimentos de Eckert, e pode se transformar em um recipiente para guardar suas próprias dores. Essa reincidência simbólica em sua obra indica que o final de uma etapa sempre dá início à outra, pois as imagens estimulam lembranças e essas ressignificam as imagens.
Quem acompanha sua trajetória sabe que ela vestiu seu coração de muitas maneiras diferentes. Já foi de porcelana, de chumbo, bordado e serigrafado. Numa varredura estética, se percebe que a serigrafia é constantemente usada e, como toda técnica da gravura, favorece a repetição, não do mesmo, mas na instauração do novo. Assim é sua obra, onde esse conceito se mostra forte, mas nem por isso a originalidade deixa de predominar. A ideia, em detrimento da técnica, abre um mundo sem limites. É nesse universo que Eckert transita, entre as conexões da serigrafia com outros processos de transmissão da imagem que pode até chegar aos processos tecnológicos da contemporaneidade, pois tudo é passível de uso. Não se pode esquecer a cerâmica que acompanha a artista há anos, além da apropriação de objetos do cotidiano como lenços, caixinhas e latinhas que guardam minigravuras – verdadeiro exercício de memória que fala sobre os sentidos atribuídos às coisas que são realizadas e como elas se desenvolvem no tempo, às vezes, quase imateriais. Todo esse fazer está situado no campo expandido da gravura contemporânea.
Os livros de artista, como ela mesma afirma: “Desde a produção do primeiro livro em 1999, interessa a narrativa de uma particular história de vida que propõe tocar corações. Ofereço o(s) meu(s) coração(ões) para ser(em) descoberto(s) [...] Tocar o coração.” (ECKERT, 2013, p.37). Esses livros evocam suas histórias pessoais e lembranças, dando início às múltiplas possibilidades de desdobramentos do símbolo coração. A exposição apresenta inúmeras séries de trabalhos e a expografia proporciona uma cuidadosa distribuição e alerta os sentidos, ora para o lúdico, ora para as reflexões sobre os suportes diferenciados. As relações de espacialidade e a articulação entre as obras são também valorizadas.
As obras, em suas potencialidades e fisicalidades suscitam indagações sobre suas constituições, leituras e materiais. No atravessamento dos sentidos, surge a ponderação: no que poderiam se transformar? Alexandra Eckert, em sua busca incessante pelo aprimoramento técnico e inventivo, coloca no seu fazer o pulsar de seu próprio coração. Por isso podemos vislumbrar um caminho sempre em construção, em que as experiências estéticas estão em constante renovação e proliferação, nos propiciando momentos de fruição indescritíveis.
REFERÊNCIAS
ECKERT, Alexandra. Série Histórias Pequenas. In: FORAPALAVRADENTRO. (Org.) BLAUTH, Lurdi. Novo Hamburgo: Ed do Autor, 2013.