Coordenada pelo professor Eduardo Barbosa, da Universidade Feevale, pesquisa nacional relacionou a temperatura ambiental aos fenótipos da hipertensão
Uma pesquisa conduzida pelo professor Eduardo Barbosa, do curso de Medicina da Universidade Feevale e apresentado em sua tese de doutorado em Clínica Médica, no Programa de Pós-Graduação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), demonstrou que o aumento de 1 grau na temperatura ambiental modifica o fenótipo da pressão arterial, e que as regiões Sul e Sudeste do país favorecem a ocorrência de fenótipos de maior risco para hipertensão. Realizado de forma transversal, o estudo avaliou 70.949 indivíduos de 460 centros em 22 cidades, abarcando todas as regiões geográficas do Brasil. A amostra apresentava 39% de homens, entre 57 e 16 anos e 51% usando medicamentos anti-hipertensivos.
Para compreender as implicações desses resultados, é preciso entender as diferenças entre as medições de pressão arterial conforme o local onde elas são feitas – se no consultório ou em casa. As discrepâncias entre as medições em cada local originam os denominados fenótipos da pressão arterial:
- Normotensão (normal dentro e fora do consultório)
- Hipertensão do avental branco (elevada no consultório e normal em casa)
- Hipertensão mascarada (normal no consultório e elevada em casa – considerada de maior risco)
- Hipertensão arterial sustentada (elevada dentro e fora do consultório)
Para determinar a relação entre as medições de pressão, foram feitas cinco avaliações em cada indivíduo: a pressão arterial no consultório foi determinada pela média de duas leituras no consultório, enquanto o monitoramento domiciliar da pressão sanguínea foi calculado pela média de três medições caseiras, tiradas de manhã e à noite durante quatro dias consecutivos, usando dispositivos validados. Já a análise das condições ambientais, crucial para determinar a influência da temperatura no fenótipo da pressão, foi feita utilizando informações relativas à temperatura ambiental média, velocidade do vento, pressão atmosférica e umidade, obtidas de estações meteorológicas localizadas nas cidades estudadas, tanto nos dias da medição no consultório quanto em domicílio.
Após cruzar os dados, o que se descobriu foi que, em cidades localizadas na região Norte, caracterizadas por temperatura média externa ambiental maior, o aumento de 1 grau na temperatura média torna o fenótipo prevalente de pressão arterial o de normotensão e de avental branco. Por outro lado, em temperatura média externa menor, como cidades nas regiões Sul e Sudeste, o aumento de 1 grau de temperatura aumenta a prevalência de fenótipos de maior risco, que é a hipertensão mascarada e hipertensão.
Conforme o professor Barbosa (foto), essas descobertas tem potenciais implicações clínicas. “Com o aquecimento global, em regiões mais quentes, deve-se considerar maior suspeita de hipertensão do avental branco e, em regiões mais frias, de hipertensão mascarada. Além disso, incorporar dados de temperatura ambiental poderia ajudar a melhorar no diagnóstico dos fenótipos da pressão arterial, demonstrando a importância da medida da pressão arterial fora do consultório”, explica. O médico também aponta a necessidade de se considerar a temperatura ambiental como fator determinante para a formulação de políticas públicas de prevenção e controle da hipertensão.
Barbosa pontua, ainda, que a temperatura ambiental pode emergir como potencial causa da diferença entre as medições de pressão arterial consultório-casa, servindo como um fator de confusão.
Isso pode afetar o impacto das estratégias de tratamento, especialmente na pressão arterial fora do consultório, em diferentes regiões geográficas. Por outro lado, uma possível explicação pelo qual as taxas de pressão arterial diminuem nas medições feitas em monitoramento domiciliar mais do que as medições feitas no consultório em temperaturas quentes pode ser que as casas brasileiras geralmente não tenham instalação de sistemas de ar condicionado e, portanto, os indivíduos podem experimentar temperaturas mais altas do que no consultório”, avalia o professor.