Estudo aponta o impacto das relações entre tecnologia, saúde mental e trabalho dos líderes no período pandêmico
Uma pesquisa realizada no curso de Psicologia da Universidade Feevale identificou o impacto das relações entre tecnologia, saúde mental e trabalho dos gestores durante a pandemia de Covid-19. O estudo Trabalhadores em cargos de gestão: as interfaces entre tecnologia, trabalho e saúde mental foi realizado pela então acadêmica Jaqueline Michaelsen Macedo, com orientação da professora Carmem Giongo. Durante o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), ela ouviu 85 pessoas que estavam atuando em cargos de liderança.
O resultado do trabalho mostrou que 92% do público sentiu aumentar a sensação de urgência para as demandas de trabalho com o uso das redes sociais e recursos tecnológicos. Para 52,9% dos entrevistados, o WhatsApp foi o principal meio de acesso às demandas, sendo que 58,78% deles afirmaram ter aumentado a quantidade de vezes que conferiram as mensagens de trabalho. 67% dos líderes entrevistados também disseram estar sobrecarregados com demandas de trabalho fora do expediente e 60% deles revelaram ficar mais conectados aos assuntos de trabalho após o seu horário.
Conforme Jaqueline, já graduada em Psicologia, a pandemia acelerou ainda mais as relações entre empregado e empregador, assim como acontece na sociedade, onde são exigidos resultados cada vez mais rápidos, fazendo com que o trabalhador passe o tempo todo conectado ao seu trabalho. “As divisões entre tempo de trabalhar e tempo de vida pessoal estão diminuindo, visto que é possível ter acesso às demandas por uma tela, de qualquer lugar e a qualquer hora. Para pessoas em cargos de liderança, o tensionamento e o alto grau de responsabilidade aumentam ainda mais essa sensação de necessidade pela conexão integral”, afirma.
Para ela, os impactos que essa dinâmica pode causar à saúde física e mental são inúmeros e trazem preocupação ao público estudado, pelo fato de muitos demonstrarem prejuízos como esgotamento mental, cansaço e questões orgânicas de sono e agitação correlacionadas ao estado de ansiedade e de alerta constante.
A divulgação dos resultados tem como objetivo proporcionar dados para reflexão. Esse é um alerta sobre os impactos que estão sendo gerados na saúde do trabalhador”, complementa.
Como forma de atenuar o desgaste dessas conexões cada vez mais intensas, a docente Carmem orienta que os trabalhadores estabeleçam períodos de descanso sem acesso aos conteúdos de trabalho. Ela indica, ainda, que as pessoas disponham, se possível, de um número de telefone apenas para o trabalho para auxiliar na divisão dos assuntos pessoais com os laborais.
É necessário, também, que as empresas incentivem e criem políticas claras de desconexão, evitando demandar as equipes em tempo integral. Períodos de descanso e desligamento total de assuntos relacionados ao trabalho são essenciais para a saúde no trabalho”, finaliza.